19 de setembro de 2010

Ouvistes o que foi dito



Ouvistes o que foi dito: “irás ao culto às quartas, sábados e domingos”, eu porém vos digo: faça de sua vida um culto a Deus, que sua rotina seja cheia de gentilezas, que sua boca pronuncie sempre a verdade doa a quem doer, que seus olhos olhem a vida com justiça e não vejam só as aparências, que seus pés pisem em todos os lugares abençoando a todos os ambientes dissipando as trevas por onde andares, que a graça em você vaze a ponto de expurgar espíritos de contendas e disputas vãs, de maledicências e de invejas, que sua palavra se alinhe a vontade de Deus para temperar a vida em volta de ti.

Ouvistes o que foi dito: “os crentes são filhos de Deus, os descrentes são filhos do diabo”, eu porém vos digo: não vos orgulheis por aquilo que de graça lhes foi dado, abençoai a todos, não sereis orgulhosos da posição de bem aventurança recebida de graça, nem lançareis ninguém no inferno, mas orai para que todos os que ainda não alcançaram estado de filhos, sejam agraciados com novo espírito dando-lhes vida para que vejam e ouvidos para que ouçam o que o Espírito diz a TODOS no mundo inteiro.

Ouvistes o que foi dito: “precisamos ir no monte orar, precisamos de jejum e oração”, eu porém vos digo: Deus é Espírito e importa que Seus adoradores o adorem em espírito e em verdade, seja no monte, seja no fundo do mar, seja no ventre do grande peixe, seja no mais profundo abismo ou na geografia que for. O jejum que o Pai aceita é aquele da inanição da iniqüidade, da ausência do mau, da desistência do orgulho por nossas boas obras, das muitas justificativas vãs que damos em nossas orações que transformam Deus num idiota cósmico e tenta ludibriá-Lo para fazer a nossa vontade assim na Terra como nos Céus.

Ouvistes o que foi dito: “está escrito na Palavra de Deus”, eu porém vos digo: não façais das Palavras de meu Pai poesia vã, tola e impraticável, mas vive-a sabendo que a pouca obediência a Sua Palavra é mais importante que o muito conhecimento que despreza Sua revelação a tratando como romance, como novela, como ficção ou como sonho de tolos.

Ouviste o que foi dito: “vamos ter Santa Ceia domingo, preciso ficar atento esta semana”, eu porém vos digo: viva de modo a se auto-examinar diariamente, corrigindo sua vida interior, seus pensamentos, seus desejos, mude seus paradigmas se alinhando dia a dia a vontade de Deus revelada na Palavra.

Ouviste o que foi dito: “não acusarás, ou julgarás, ou se levantará contra o ungido do Senhor”, eu porém vos digo: se o sujeito, pastor, bispo, apóstolo ou arcanjo, não se alinhar a Palavra revelada, seja anátema! Se não houver bondade, graça e misericórdia em suas palavras, seja anátema! Se falar em nome de Deus e viver em nome dos bens, seja anátema!

Usai de misericórdia para com todos, levai as cargas uns dos outros, não vos priveis do amor, da bondade, da ajuda, do socorro, da solidariedade, das orações, da comunhão constante, da humildade, da edificação mútua, da paz, da esperança...

Sabei que o mesmo Deus que te mantém vivo é aquele que mantém a TODOS igualmente com vida, não faz acepção de pessoas e não separa grupos em pessoas dEle e do diabo, visto que o diabo nada tem e que tudo e todos são dEle.

Glória a Deus!

17 de setembro de 2010

Aos crentes mágicos...



Uma das coisas que sempre me impressionaram na natureza humana é a nossa capacidade de criar qualquer realidade que desejemos; e, a seguir, projetá-la em alguém, em alguma coisa, em algum lugar ou individuo; ou ainda sobre uma instituição, seja ela de qual natureza for... — para, então, entregarmo-nos à fantasia... como se aquilo fosse a coisa mais real e genuína possível; até que depois de um tempo..., ao verificar que espinheiros não dão uva, saímos chorando, chocados, lamuriando contra Deus e a existência, sentido-nos enganados; e tudo porque espinheiros dão espinhos e videiras dão uva, embora nós tenhamos teimado em plantar uma natureza e esperando ceifar a outra...
Assim, relembrando que espinheiros não dão uvas, digo:
Toda mentira adoece o mentiroso, e inicia nele uma doença na mente; a doença da fantasia armada e destrutiva; além de que faz dele um ser mau caráter, pois, toda falsificação da realidade é a própria criação do diabo no interior do inventor, do mentiroso...
Não existe boa traição. Toda traição é traição, ainda que seja do policial ao bandido; e a sua conseqüência é que todo traidor fica pior do que qualquer traído, por pior que ele seja; e mais: quanto melhor for o traído, pior ficará o traidor...
Não existe pai e mãe que mereçam ser desonrados. Quem desonra pai e mãe deflagra o mecanismo de autodestruição no ser... Por isto ele não será longevo na alma...
Não existe o lúcido adorador de ídolos... Quem adora a um ídolo fica sempre menor do que ele, até que nele se dissolva...
Ninguém cuja profissão existencial seja perseguir acabará a vida doce...
Quem dissimula com habilidade se torna o diabo de si mesmo para sempre...
Quem dá falso testemunho cria para si mesmo aquilo que falsamente testemunhou...
Todo aquele que julga e decide o destino de alguém, cria para si mesmo o padrão pelo qual Deus o julgará...
Quem entrega os tesouros de sua alma a alguém que não seja confiável, será devorado pelo suíno que receber tais preciosidades como dádivas de um insensato...
Quem não serve copos de água ao sedento jamais beberá da fonte da água da vida...
Quem nada dá a ninguém, esse nunca terá o que seja Graça de Deus...
Quem ama a morte é filho do inferno...
Quem odeia é sócio do diabo na destruição da vida; e com ele compartilhará o mesmo destino...
Quem trama o mal ficará louco e paranóico, e morrerá de suas próprias armadilhas...
Todo aquele que inveja se torna o mais feio dos homens...
O arrogante é o coveiro de sua própria sepultura...
O sedutor vira lesma gosmenta na alma... E ele mesmo morrerá sem se suportar...
Todo aquele que vive para esconder um dia não mais saberá o caminho de volta de seu próprio labirinto de enganos e ocultamentos...
Assim é a vida...
E não há oração, unção, mágica ou poder algum que possam mudar a natureza de tais coisas!
Bem-aventurado o que crê na verdade da realidade e na realidade da verdade!
O que passar disso..., é tentativa de fazer mágica na existência!...
Nele, que nunca nos mandou praticar mágica, pois Ele não acredita em mágica.



* "E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra."

(2 Crônicas 7:14)

As coisas fantásticas, são as mais simples.



PARA QUEM GOSTA DO QUE É SIMPLES!

Não se preocupe com Deus. Ele cuida de Si mesmo. Ele se defende. Ele é maior de idade.
Não se angustie por Deus. Ele não se transtorna e nem se abala.
Não defenda Deus. Se Ele não defender a Si mesmo, por que haverá você de fazê-lo? Você tem melhores argumentos?
Não se aflija em fazer Deus compreensível. Isto não é possível. Ele revela a Si mesmo ou nada é discernido.
Fale de Deus como Ele fala de Si mesmo.
Fale de Jesus como Jesus falou de Si mesmo.
Fale do Evangelho como ele fala em si mesmo.
Nunca discurse Deus. É obra de artífice de ídolos de linguagem.
Nunca filosofe Deus. É a louca-loucura dos sábios, que é a maior insensatez para Deus.
Nunca doutrine sobre Deus. É melhor oferecer bula de remédio a um doente analfabeto.
Confie sempre na verdade. Ela é invencível.
Confie sempre no amor. Ele é de Deus; pois Deus é amor.
Confie sempre que a paz é a melhor arma e a melhor defesa.
Creia simples e tudo será maravilhoso.
Creia complexo e você jamais terá alegria.
Creia, apenas creia, e tudo passará a ser possível.

Mas, sobretudo, seja sincero com Deus e com você mesmo, pois, sem isso, nada acima é verdade.

Por:  Caio Fabio

12 de setembro de 2010

As doenças de ser que não vemos em nós



Não é porque alguém não defeque nas calças e nem faça xixi nas pernas que seja sadio.
Não é porque uma pessoa não seja violenta e agressiva que por tal razão seja sadia.
Não é porque a pessoa não apresente nenhuma das disfunções psíquicas que ocorrem como transtorno em pessoas diagnosticadas com problemas psíquicos graves que, por tal razão, ela seja mentalmente sadia.

Nossos maiores problemas mentais não são objeto de preocupações psicológicas e psiquiátricas. Sim! Eles decorrem de inseguranças sutis, de abusos leves, de mentiras simples, de implicâncias e antipatias inocentes, de direitos pessoais exacerbados, de intenções de controle e manipulação, de incapacidade de se enxergar, de traumas antigos e esquecidos, mas que deixam suas trilhas como caminho emocional na pessoa, etc.

Desse modo, não havendo cuidado e atenção da pessoa a si mesma, às suas emoções, reações, explosões, iras, irritações, etc. — ela vai ficando cega; e, pela normalidade da conduta social, vai adoecendo na alma sem notar que o mal está instalado e crescendo...

Nessa hora [hora-sempre], além de frequente e diário auto-exame, devemos também, por mais chato e desagradável que nos seja, passarmos a dar atenção ao que os outros que nos amam dizem a nosso respeito; visto que, muitas vezes, o que os outros - íntimos dizem de nós carrega muito daquilo que não vemos e não queremos ver e admitir.

Normalmente tal situação é criada por um de dois extremos na alma:

1. Excesso de segurança sobre os próprios conceitos e justiça-própria.
Ora, uma pessoa tomada de tais certezas de justiça pessoal, em geral se torna incapaz de ver suas próprias idiossincrasias; as quais, em tal caso, são o resultado de tudo o que ‘de bom’ resida em tal justiça pessoal, mas que, não sendo objeto de analise da pessoa, acaba cegando áreas inteiras da auto-percepção da pessoa; sem falar que muita gente, depois de um tempo vivendo assim, desenvolve mais e mais aspectos positivos de sua justiça-própria com a finalidade inconsciente de ter álibi para um monte de outras coisas que a pessoa não quer ver e nem tratar.

2. Grande insegurança acerca de si mesmo.
Se a pessoa cheia de justiça-própria pode cegar-se por falta de auto-percepção gerada pela falsa idéia de justiça pessoal, de outro lado, o inseguro enxerga-se de modo desproporcionalmente negativo, e, assim, desenvolve todas as doenças da insegurança, que podem ir de extremo narcisismo ao oposto dele, que é a pior auto-imagem possível.

Por isto, o mandamento é este:

“Examine-se o homem a sí mesmo...”

Afinal, se no Querubim da Guarda pôde entrar perversidade em meio à Glória, pergunto: Quem fez você crer que, por julgar-se bom e justo, algo do Querubim Exaltado não possa alojar-se sutilmente em você?

Sim! As piores doenças do ser não existem nas tabelas de doenças da alma da ciência.

Nosso chamado, todavia, é para a cura diária e para a auto-análise cotidiana; não nos conformando com os padrões de comportamento adoecido desta geração perversa, e, além disso, aceitando nosso chamado para a renovação da mente, todos os dias; checando a nós mesmos diante do amor de Deus e do padrão de saúde interior determinado pelo mandamento de ser, conforme o amor em Jesus.

No dia em que alguém se julga completamente sadio, nesse dia estará mais doente de alma do que nunca. 

Somente os que existem crendo que precisam não apenas de manutenção espiritual, mas de cura mesmo, é que viverão sendo curados todos os dias.

Aquele, porém, que julga que falta muito pouco a ser curado nele, esse, infelizmente, morrerá sob a presunção da saúde, celebrando conquistas antigas, mas que se perderam no tempo; posto que nenhuma virtude é perene em nós, visto que para cada virtude existe uma não-virtude equivalente ao que em nós seja virtuoso; e, assim, pela falta de auto-analise, o pólo negativo e equivalente de nossa virtude, sutilmente vai se alojando em nós, até que nos tome, enquanto nós julgamos que se trata ainda da virtude original.

Não adianta. Não há bom. Quem não se entrega diariamente ao exame na verdade do Evangelho, esse, mesmo supondo servir a Deus, vai se perdendo sem notar...

É assim que o Querubim da Guarda se torna Lúcifer e só fica sabendo quando já é diabo.

Pense nisso e olhe para você mesmo!

Nele, que nos chama à Luz todos os dias,

Fonte:

5 de setembro de 2010

Não precisamos de nova reforma, precisamos de um simples retorno


Por Alan Capriles

Muito se tem falado da necessidade de uma nova reforma na Igreja, a exemplo da reforma protestante, ocorrida no século XVI. Parece haver cada vez mais artigos e comentários na internet acerca do assunto, o que corrobora para o fato de que existe mesmo algo de errado.

Um dos mais renomados pregadores declarou recentemente: “tenho chegado a uma conclusão inequívoca, séria, preocupante: a igreja evangélica brasileira precisa passar por uma nova reforma.” A declaração deste homem de Deus reflete o pensamento de muitos crentes que anseiam por levar a sério nossa fé em Cristo. Mas estou certo de que o termo “nova reforma” não é o mais adequado para o que estamos buscando.

O problema de se alardear acerca da necessidade de uma “nova reforma” é a idéia errada que se pode ter disso. Quando se fala em reforma, pensamos em Lutero e suas 95 teses. Logo, ao se falar em “nova reforma”, não faltam candidatos a serem “novos Luteros” e a escreverem “novas teses”. A internet está cheia disso. Mas, definitivamente, não é este o caso! Não precisamos de novos Luteros e nem sequer de novas teses.

Após muito pesquisar e meditar no assunto, estou convencido de que nós, evangélicos, não precisamos de uma nova reforma; nós precisamos é de um retorno. Um simples retorno aos cinco pilares da reforma ocorrida meio século atrás. Isto porque os desvios da igreja evangélica de hoje são semelhantes aos desvios da igreja católica na época de Martinho Lutero. Um simples retorno às bases da reforma protestante, já resolveriam grande parte do problema, senão todo o problema.

Longe de ser um retrocesso, precisamos lembrar que os princípios fundamentais da reforma, que são chamados de “cinco solas”, são essenciais para uma prática cristã genuína. O retorno a estas bases já seria suficiente para que os evangélicos retornem ao padrão bíblico de Igreja. Se não, vejamos:

SOLA SCRIPTURA

O primeiro “sola” reafirma a Escritura como inerrante e única fonte de revelação divina escrita. A Bíblia ensina tudo quanto é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.

Ao retornar para o “só a Escritura”, negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale contrariando o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de nova revelação.

Retornando ao “só a Escritura”, seriam solucionados os seguintes problemas na Igreja:

• A Igreja será menos influenciada pela cultura: Técnicas terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento muitas vezes têm mais influência naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a própria Palavra de Deus.

• A Igreja deixará de ser guiada pelo homem: Sonhos, visões, revelações e novas profecias, estranhas e fora das Escrituras, têm substituído a Bíblia em muitos púlpitos chamados evangélicos. Nós vemos evangélicos correndo atrás de verdadeiros gurus espirituais, pessoas que não examinam mais as Escrituras, pessoas que mal conhecem a Palavra de Deus.

• A Igreja deixará de ser pragmática: O pragmatismo é o conceito que só busca resultados: “o que dá certo, sem se preocupar com o que é certo”. Atualmente, igrejas importam modelos de crescimento numérico, que deram certo em outras igrejas, sem passá-los pelo crivo das Escrituras.

SOLUS CHRISTUS

O “Somente Cristo” reafirma que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória de Jesus Cristo. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.

Ao retornar para o “somente Cristo”, negamos que o verdadeiro evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé nele não estiver sendo incitada.

Este retorno à centralidade de Cristo solucionaria os seguintes problemas:

• A pregação voltará a ser cristocêntrica: Muitas pregações da atualidade não passam de palestras de motivação recheadas de versículos escolhidos por conveniência. São mensagens temáticas, centralizadas no ser humano, na grandeza do homem, na importância do homem, para satisfazer ao homem.

• Acabam os “semi-deuses”: Uma vez que Cristo é suficiente para nosso relacionamento com Deus, acaba o conceito errôneo que leva um crente a depender de um líder para receber orientação, proteção e bênçãos. Em algumas igrejas existe uma pirâmide hierárquica, que aprisiona os crentes, ao mesmo tempo em que privilegia os líderes que estão no topo.

• Acabam os mediadores: Sendo lembrado que Cristo é nosso único mediador, a velha prática romana de confessar os pecados ao homem não ameaçará mais nossa doutrina. Algumas igrejas evangélicas estão voltando a esta prática medieval, que já havia sido abolida.

SOLA GRATIA

O terceiro “sola” reafirma que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual para a vida espiritual.

Ao retornar para o “somente a graça” estamos negando que a salvação seja produzida por métodos, técnicas ou estratégias humanas. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

Este retorno à verdade da graça de Deus solucionaria os seguintes problemas:

• Acabaria com os sacrifícios em troca de bênçãos: Estamos vivendo um período em que algumas igrejas chamadas evangélicas estão desenterrando as indulgências da idade média. Pessoas querem comprar as bênçãos de Deus com dinheiro, rejeitando sua graça, seu favor imerecido.

• Acabaria com o comércio da fé: Há líderes hoje que fazem do púlpito um balcão, do evangelho um produto, da igreja uma empresa e dos crentes consumidores. Há igrejas que mais parecem empresas, cuja finalidade é arrecadar dinheiro, do que agências do reino de Deus, cujo propósito deve ser pregar o evangelho da graça para salvação de almas. Este comércio acontece porque muitos crentes pensam que precisam aprender um novo método, ou estratégia, para se alcançar o favor de Deus, ou para se sentirem melhores, deixando de confiar na graça de Deus.

• Traria um retorno ao verdadeiro evangelho: O evangelho é a boa nova da salvação, mas esta boa nova tem sido trocada, em muitas igrejas, por outros evangelhos: o da prosperidade (aceite Jesus para ser próspero), o da saúde (aceite Jesus e seja curado) e o da auto-estima (você é tão importante que Jesus morreu por você). Na verdade, somos tão pecadores que Deus precisou enviar seu Filho para nos salvar; e isto, não porque mereçamos, mas porque Deus é amor. Isto é a graça de Deus. E isto já é o bastante para nos constranger a servi-lo e adorá-lo pelo resto de nossas vidas, sem nenhum interesse, ou segundas intenções.

SOLA FIDE

O quarto “sola” reafirma que a justificação nos é concedida pela graça, mas somente por intermédio da fé em Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.

Ao retornarmos para o “só a fé”, negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja, mas negue ou condene o “sola fide” possa ser reconhecida como igreja legítima.

O retorno a fé em Cristo como suficiente para nossa justificação e relacionamento com Deus ocasionaria:

• O fim do misticismo na Igreja: Quanto misticismo no meio evangélico! Quantas pessoas botando um copo d’água em cima do rádio, ou da televisão, achando que é preciso beber daquela água para receber milagres de Deus. Quantas pessoas que crêem numa rosa ungida, num lenço ungido, num tapete de sal, em coisas que brotam do misticismo e não das Escrituras Sagradas. Nós estamos vendo muitos evangélicos prisioneiros do mesmo misticismo pagão contra o qual Lutero protestou.

• O fim de práticas desnecessárias para justificação: A mensagem do evangelho de Cristo é clara: arrependimento e fé. Mas, atualmente, práticas oriundas da psicologia e do esoterismo estão substituindo a simplicidade do evangelho. Em algumas igrejas os novos convertidos precisam preencher longas listas de pecados cometidos no decorrer de toda sua vida, a fim de renunciar um por um; do contrário, não se pode afirmar que foram perdoados. Ainda se faz pior: os neófitos são submetidos a uma seção de regressão, a fim de se relembrar traumas e pecados do passado, que serão também renunciados. Em outras igrejas, os novos crentes precisam passar por uma seção de “descarrego”, ou de libertação, na qual demônios são chamados pelo nome, para que se manifestem e sejam expulsos, antes que o crente passe pelo batismo. De onde se aprendeu isto? Certamente não foi da Bíblia, que nos ensina o arrependimento e fé como únicas e suficientes condições para sermos salvos, batizados e inseridos no reino de Deus.

• Uma pregação e ensino mais sólidos: Uma vez que se eliminaram os substitutos da fé, a genuína fé precisa ser gerada e edificada nos crentes. Isto só é possível mediante a pregação e o ensino teologicamente corretos da Palavra de Deus. Os pregadores e professores perceberão que precisam dedicar-se mais ao conhecimento das Escrituras e a oração, a fim de pregarem e ensinarem a verdade com a unção de Deus.

SOLI DEO GLORIA

O “só a Deus glória” reafirma que a salvação é obra de Deus, e que por isso devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Ao darmos glória somente a Deus, negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos a vontade de Deus em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.

O retorno a devida glorificação da qual somente Deus é digno acarretaria:

• A eliminação do entretenimento em nossos cultos: Apresentações que façam do altar um palco, dos membros espectadores, dos pastores animadores de auditório, não glorificam a Deus, ainda que se use a justificativa de que é feito para Jesus. Não glorificam pelo simples fato de que o Senhor nunca nos orientou realizar tais coisas para cultuá-lo.

• O fim da era das “estrelas gospel”: Nós estamos vivendo hoje, na realidade evangélica brasileira, algo inédito na história da Igreja: o culto à personalidade. Estamos vendo hoje situações em que pregadores e cantores são tratados como verdadeiros astros de cinema, cobrando cachês para participarem de cultos. Muitos crentes, ao alimentarem esta prática, estão cometendo o pecado da tietagem evangélica. Isto precisa acabar!

• O culto sendo somente para Deus: É comum ouvirmos crentes dizendo se gostaram ou não do culto. Isto ocorre porque o humanismo egoísta de nossa sociedade tem influenciado a Igreja. Existe um conceito não declarado de que o culto tem que agradar ao homem, quando na realidade o culto deve ser dirigido a Deus e somente para glória de Deus.

Como se vê, não necessitamos de “novos Luteros” e de “novas teses”. Não precisamos de uma nova reforma. Precisamos apenas, e urgentemente, de um simples retorno.

fontePor Alan Capriles



Obs : Tenho porém contra ti que Deixaste o primeiro amor, lembra te de onde caíste, e arrepende-te, pratique as primeiras obras, quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do teu lugar o castiçal, se não te arrependeres...Apc 2:2-6"...

Revista Época - Os novos evangélicos



A revista Época desta semana traz como matéria de capa “A nova Reforma Protestante”, onde trata de cristãos que buscam o retorno ao Evangelho puro e simples de Cristo, na contramão de boa parte da igreja evangélica brasileira, fascinada com movimentos heréticos como a teologia da prosperidade. Abaixo, a transcrição da matéria, obtida via Púlpito Cristão:
Por Ricardo Alexandre
Matéria publicada na Revista Época
Rani Rosique não é apóstolo, bispo, presbítero nem pastor. É apenas um cirurgião geral de 49 anos em Ariquemes, cidade de 80 mil habitantes do interior de Rondônia. No alpendre da casa de uma amiga professora, ele se prepara para falar. Cercado por conhecidos, vizinhos e parentes da anfitriã, por 15 minutos Rosique conversa sobre o salmo primeiro (“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios”). Depois, o grupo de umas 15 pessoas ora pela última vez – como já havia orado e cantado por cerca de meia hora antes – e então parte para o tradicional chá com bolachas, regado a conversa animada e íntima.
Desde que se converteu ao cristianismo evangélico, durante uma aula de inglês em Goiânia em 1969, Rosique pratica sua fé assim, em pequenos grupos de oração, comunhão e estudo da Bíblia. Com o passar do tempo, esses grupos cresceram e se multiplicaram. Hoje, são 262 espalhados por Ariquemes, reunindo cerca de 2.500 pessoas, organizadas por 11 “supervisores”, Rosique entre eles. São professores, médicos, enfermeiros, pecuaristas, nutricionistas, com uma única característica comum: são crentes mais experientes.
Apesar de jamais ter participado de uma igreja nos moldes tradicionais, Rosique é hoje uma referência entre líderes religiosos de todo o Brasil, mesmo os mais tradicionais. Recebe convites para falar sobre sua visão descomplicada de comunidade cristã, vindos de igrejas que há 20 anos não lhe responderiam um telefonema. Ele pode ser visto como um “símbolo” do período de transição que a igreja evangélica brasileira atravessa. Um tempo em que ritos, doutrinas, tradições, dogmas, jargões e hierarquias estão sob profundo processo de revisão, apontando para uma relação com o Divino muito diferente daquela divulgada nos horários pagos da TV.

Estima-se que haja cerca de 46 milhões de evangélicos no Brasil. Seu crescimento foi seis vezes maior do que a população total desde 1960, quando havia menos de 3 milhões de fiéis espalhados principalmente entre as igrejas conhecidas como históricas (batistas, luteranos, presbiterianos e metodistas). Na década de 1960, a hegemonia passou para as mãos dos pentecostais, que davam ênfase em curas e milagres nos cultos de igrejas como Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil e O Brasil Para Cristo. A grande explosão numérica evangélica deu-se na década de 1980, com o surgimento das denominações neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renascer. Elas tiraram do pentecostalismo a rigidez de costumes e a ele adicionaram a “teologia da prosperidade”. Há quem aposte que até 2020 metade dos brasileiros professará à fé evangélica.
Dentro do próprio meio, levantam-se vozes críticas a esse crescimento. Segundo elas, esse modelo de igreja, que prospera em meio a acusações de evasão de divisas, tráfico de armas e formação de quadrilha, tem sido mais influenciado pela sociedade de consumo que pelos ensinamentos da Bíblia. “O movimento evangélico está visceralmente em colapso”, afirma o pastor Ricardo Gondim, da igreja Betesda, autor de livros como Eu creio, mas tenho dúvidas: a graça de Deus e nossas frágeis certezas (Editora Ultimato). “Estamos vivendo um momento de mudança de paradigmas. Ainda não temos as respostas, mas as inquietações estão postas, talvez para ser respondidas somente no futuro.”Nos Estados Unidos, a reinvenção da igreja evangélica está em curso há tempos. A igreja Willow Creek de Chicago trabalhava sob o mote de ser “uma igreja para quem não gosta de igreja” desde o início dos anos 1970. Em São Paulo, 20 anos depois, o pastor Ed René Kivitz adotou o lema para sua Igreja Batista, no bairro da Água Branca – e a ele adicionou o complemento “e uma igreja para pessoas de quem a igreja não costuma gostar”. Kivitz é atualmente um dos mais discutidos pensadores do movimento protestante no Brasil e um dos principais críticos da“religiosidade institucionalizada”. Durante seu pronunciamento num evento para líderes religiosos no final de 2009, Kivitz afirmou: “Esta igreja que está na mídia está morrendo pela boca, então que morra. Meu compromisso é com a multidão agonizante, e não com esta igreja evangélica brasileira.”Essa espécie de “nova reforma protestante” não é um movimento coordenado ou orquestrado por alguma liderança central. Ela é resultado de manifestações espontâneas, que mantêm a diversidade entre as várias diferenças teológicas, culturais e denominacionais de seus ideólogos. Mas alguns pontos são comuns. O maior deles é a busca pelo papel reservado à religião cristã no mundo atual. Um desafio não muito diferente do que se impõe a bancos, escolas, sistemas políticos e todas as instituições que vieram da modernidade com a credibilidade arranhada. “As instituições estão todas sub judice”, diz o teólogo Ricardo Quadros Gouveia, professor da Universidade Mackenzie de São Paulo e pastor da Igreja Presbiteriana do Bairro do Limão. “Ninguém tem dúvida de que espiritualidade é uma coisa boa ou que educação é uma coisa boa, mas as instituições que as representam estão sob suspeita.”Uma das saídas propostas por esses pensadores é despir tanto quanto possível os ensinamentos cristãos de todo aparato institucional. Segundo eles, a igreja protestante (ao menos sua face mais espalhafatosa e conhecida) chegou ao novo milênio tão encharcada de dogmas, tradicionalismos, corrupção e misticismo quanto a Igreja Católica que Martinho Lutero tentou reformar no século XVI. “Acabamos nos perdendo no linguajar ‘evangeliquês’, no moralismo, no formalismo, e deixamos de oferecer respostas para nossa sociedade”, afirma o pastor Miguel Uchôa, da Paróquia Anglicana Espírito Santo, em Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife. “É difícil para qualquer pessoa esclarecida conviver com tanto formalismo e tão pouco conteúdo.”

Uchôa lidera a maior comunidade anglicana da América Latina. Seu trabalho é reconhecido por toda a cúpula da denominação como um dos mais dinâmicos do país. Ele é um dos grandes entusiastas do movimento inglês Fresh Expressions, cujo mote é “uma igreja mutante para um mundo mutante”. Seu trabalho é orientar grupos cristãos que se reúnem em cafés, museus, praias ou pistas de skate. De maneira genérica, esses grupos são chamados de “igreja emergente” desde o final da década de 1990. “O importante não é a forma”, afirma Uchôa. “É buscar a essência da espiritualidade cristã, que acabou diluída ao longo dos anos, porque as formas e hierarquias passaram a ser usadas para manipular pessoas. É contra isso que estamos nos levantando.”
No meio dessa busca pela essência da fé cristã, muitas das práticas e discursos que eram característica dos evangélicos começaram a ser considerados dispensáveis. Às vezes, até condenáveis (leia o quadro na última pág.). Em Campinas, no interior de São Paulo, ocorre uma das experiências mais interessantes de recriação de estruturas entre as denominações históricas. A Comunidade Presbiteriana Chácara Primavera não tem um templo. Seus frequentadores se reúnem em dois salões anexos a grandes condomínios da cidade e em casas ao longo da semana. Aboliram a entrega de dízimos e as ofertas da liturgia. Os interessados em contribuir devem procurar a secretaria e fazê-lo por depósito bancário – e esperar em casa um relatório de gastos. Os sermões são chamados, apropriadamente, de “palestras” e são ministrados com recursos multimídias por um palestrante sentado em um banquinho atrás de um MacBook. A meditação bíblica dominical é comumente ilustrada por uma crônica de Luis Fernando Verissimo ou uma música de Chico Buarque de Hollanda.“Os seminários teológicos formam ministros para um Brasil rural em que os trabalhos são de carteira assinada, as famílias são papai, mamãe, filhinhos e os pastores são pessoas respeitadas”, diz Ricardo Agreste, pastor da Comunidade e autor dos livros Igreja? Tô fora e A jornada (ambos lançados pela Editora Socep). “O risco disso é passar a vida oferecendo respostas a perguntas que ninguém mais nos faz. Há muita gente séria, claro, dizendo verdades bíblicas, mas presas a um formato ultrapassado.”Outro ponto em comum entre esses questionadores é o rompimento declarado com a face mais visível dos protestantes brasileiros: os neopentecostais. “É lisonjeador saber que atraímos gente com formação universitária e que nos consideram ‘pensadores’”, afirma Ricardo Agreste. “O grande problema dos evangélicos brasileiros não é de inteligência, é de ética e honestidade.” Segundo ele, a velha discussão doutrinária foi substituída por outra. “Não é mais uma questão de pensar de formas diferentes a espiritualidade cristã”, diz. “Trata-se de entender que há gente usando vocabulário e elementos de prática cristã para ganhar dinheiro e manipular pessoas.”Esse rompimento da cordialidade entre os evangélicos históricos e os neopentecostais veio a público na forma de livros e artigos. A jornalista (evangélica) Marília Camargo César publicou no final de 2008 o livro Feridos em nome de Deus (Editora Mundo Cristão), sobre fiéis decepcionados com a religião por causa de abusos de pastores. O teólogo Augustus Nicodemus Lopes, chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie, publicou O que estão fazendo com a Igreja: ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro (Mundo Cristão), retrato desolador de uma geração cindida entre o liberalismo teológico, os truques de marketing, o culto à personalidade e o esquerdismo político. Em um recente artigo, o presidente do Centro Apologético Cristão de Pesquisas, João Flavio Martinez, definiu como “macumba para evangélico” as práticas místicas da Igreja Universal do Reino de Deus, como banho de descarrego e sabonete com extrato de arruda.Tais críticas, até pouco tempo atrás, ficavam restritas aos bastidores teológicos e às discussões internas nas igrejas. Livros mais antigos – como Supercrentes, Evangélicos em crise, Como ser cristão sem ser religioso e O evangelho maltrapilho (todos da editora Mundo Cristão) – eram experiências isoladas, às vezes recebidos pelos fiéis como desagregadores. “Parece que a sociedade se fartou de tanto escândalo e passou a dar ouvidos a quem já levantava essas questões há tempos”, diz Mark Carpenter, diretor-geral da Mundo Cristão.O pastor Kivitz – que publicou pela Mundo Cristão seus livros Outra espiritualidade e O livro mais mal-humorado da Bíblia – distingue essa crítica interna daquela feita pela mídia tradicional aos neopentecostais “A mídia trata os evangélicos como um fenômeno social e cultural. Para fazer uma crítica assim, basta ter um pouco de bom-senso. Essa crítica o (programa) CQC já faz, porque essa igreja é mesmo um escracho”, diz ele. “Eu faço uma crítica diferente, visceral, passional, porque eu sou evangélico. E não sou isso que está na televisão, nas páginas policiais dos jornais. A gente fica sem dormir, a gente sofre e chora esse fenômeno religioso que pretende ser rotulado de cristianismo.”

A necessidade de se distinguir dos neopentecostais também levou essas igrejas a reconsiderar uma série de práticas e até seu vocabulário. Pastores e “leigos” passam a ocupar o mesmo nível hierárquico, e não há espaço para “ungidos” em especial. Grandes e imponentes catedrais e “cultos shows” dão lugar a reuniões informais, em pequenos grupos, nas casas, onde os líderes podem ser questionados, e as relações são mais próximas. O vocabulário herdado da teologia triunfalista do Antigo Testamento (vitória, vingança, peleja, guerra, maldição) é reconsiderado. Para superar o desgaste dos termos, algumas igrejas preferem ser chamadas de “comunidades”, os cultos são anunciados como “reuniões” ou “celebrações” e até a palavra “evangélico” tem sido preterida em favor de “cristão” – o termo mais radical. Nem todo mundo concorda, evidentemente. “Eles (os neopentecostais) é que não deveriam ser chamados de evangélicos”, afirma o bispo anglicano Robinson Cavalcanti, da Diocese do Recife. “Eles é que não têm laços históricos, teológicos ou éticos com os evangélicos.”

Um dos maiores estudiosos do fenômeno evangélico no Brasil, o sociólogo Ricardo Mariano (PUC-RS), vê como natural o embate entre neopentecostais e as lideranças de igrejas históricas. Ele lembra que, desde o final da década de 1980, quando o neopentecostalismo ganhou força no Brasil, os líderes das igrejas históricas se levantaram para desqualificar o movimento. “O problema é que não há nenhum órgão que regule ou fale em nome de todos os evangélicos, então ninguém tem autoridade para dizer o que é uma legítima igreja evangélica”, afirma.

Procurado por ÉPOCA, Geraldo Tenuta, o Bispo Gê, presidente nacional da Igreja Renascer em Cristo, preferiu não entrar em discussões. “Jesus nos ensinou a não irmos contra aqueles que pregam o evangelho, a despeito de suas atitudes”, diz ele. “Desde o início, éramos acusados disto ou daquilo, primeiro porque admitíamos rock no altar, depois porque não tínhamos usos e costumes. Isso não nos preocupa. O que não é de Deus vai desaparecer, e não será por obra dos julgamentos.” A Igreja Universal do Reino de Deus – que, na terceira semana de julho, anunciou a construção de uma “réplica do Templo de Salomão” em São Paulo, com “pedras trazidas de Israel” e “maior do que a Catedral da Sé” – também foi procurada por ÉPOCA para comentar os movimentos emergentes e as críticas dirigidas à igreja. Por meio de sua assessoria, o bispo Edir Macedo enviou um e-mail com as palavras: “Sem resposta”.

O sociólogo Ricardo Mariano, autor do livro Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil (Editora Loyola), oferece uma explicação pragmática para a ruptura proposta pelo novo discurso evangélico. Ateu, ele afirma que o objetivo é a busca por uma certa elite intelectual, um público mais bem informado, universitário, mais culto que os telespectadores que enchem as igrejas populares. “Vivemos uma época em que o paciente pesquisa na internet antes de ir ao consultório e é capaz de discutir com o médico, questionar o professor”, diz. “Num ambiente assim, não tem como o pastor proibir nada. Ele joga para a consciência do fiel.”

A maior parte da movimentação crítica no meio evangélico acontece nas grandes cidades. O próprio pastor Kivitz afirma que “talvez não agisse da mesma forma se estivesse servindo alguma comunidade em um rincão do interior” e que o diálogo livre entre púlpito e auditório passa, necessariamente, por uma identificação cultural. “As pessoas não querem dogmas, elas querem honestidade”, diz ele. “As dúvidas delas são as minhas dúvidas. Minha postura é, juntos, buscarmos respostas satisfatórias a nossas inquietações.”

Por isso mesmo, Ricardo Mariano não vê comparação entre o apelo das novas igrejas protestantes e das neopentecostais. “O destino desses líderes será ‘pescar no aquário’, atraindo insatisfeitos vindos de outras igrejas, ou continuar falando para meia dúzia de pessoas”, diz ele. De acordo com o presbiteriano Ricardo Gouveia, “não há, ou não deveria haver, preocupação mercadológica” entre as igrejas históricas. “Não se trata de um produto a oferecer, que precise ocupar espaço no mercado”, diz ele. “Nossa preocupação é simplesmente anunciar o evangelho, e não tentar ‘melhorá-lo’ ou torná-lo mais interessante ou vendável.”

O advento da internet foi fundamental para pastores, seminaristas, músicos, líderes religiosos e leigos decidirem criar seus próprios sites, portais, comunidades e blogs. Um vídeo transmitido pela Igreja Universal em Portugal divulgando o Contrato da fé – um “documento”, “autenticado” pelos pastores, prometendo ao fiel a possibilidade de se “associar com Deus e ter de Deus os benefícios” – propagou-se pela rede, angariando toda sorte de comentários. Outro vídeo, em que o pregador americano Moris Cerullo, no programa do pastor Silas Malafaia, prometia uma “unção financeira dos últimos dias” em troca de quem “semear” um “compromisso” de R$ 900 também bombou na rede. Uma cópia da sentença do juiz federal Fausto De Sanctis condenando os líderes da Renascer Estevam e Sônia Hernandes por evasão de divisas circulou no final de 2009. De Sanctis afirmava que o casal “não se lastreia na preservação de valores de ética ou correção, apesar de professarem o evangelho”. “Vergonha alheia em doses quase insuportáveis” foi o comentário mais ameno entre os internautas.

Sites como Pavablog , Veshame Gospel , Irmãos.com , Púlpito Cristão , Caiofabio.net ou Cristianismo Criativo fazem circular vídeos, palestras e sermões e debatem doutrinas e notícias com alto nível de ousadia e autocrítica. De um grupo de blogueiros paulistanos, surgiu a ideia da Marcha pela ética, um protesto que ocorre há dois anos dentro da Marcha para Jesus (evento organizado pela Renascer). Vestidos de preto, jovens carregam faixas com textos bíblicos e frases como “O $how tem que parar” e “Jesus não está aqui, ele está nas favelas”. 

A maior parte desses blogueiros trafega entre assuntos tão diversos como teologia, política, televisão, cinema e música popular. O trânsito entre o “secular” e o “sagrado” é uma das características mais fortes desses novos evangélicos. “A espiritualidade cristã sempre teve a missão de resgatar a pessoa e fazê-la interagir e transformar a sociedade”, diz Ricardo Agreste. “Rompemos o ostracismo da igreja histórica tradicional, entramos em diálogo com a cultura e com os ícones e pensamento dessa cultura e estamos refletindo sobre tudo isso.”

Em São Paulo, o capelão Valter Ravara criou o Instituto Gênesis 1.28, uma organização que ministra cursos de conscientização ambiental em igrejas, escolas e centros comunitários. “É a proposta de Jesus, materializar o amor ao próximo no dia a dia”, afirma Ravara. “O homem sem Deus joga papel no chão? O cristão não deve jogar.” Ravara publicou em 2008 a Bíblia verde, com laminação biodegradável, papel de reflorestamento e encarte com textos sobre sustentabilidade.

A então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, escreveu o prefácio da Bíblia verde. Sua candidatura à Presidência da República angariou simpatia de blogueiros e tuiteiros, mas não o apoio formal da Assembleia de Deus, denominação a que ela pertence. A separação entre política e religião pregada por Marina é vista como um marco da nova inserção social evangélica. O vereador paulistano e evangélico Carlos Bezerra Jr. afirma que o dever do político cristão é “expressar o Reino de Deus” dentro da política. “É o oposto do que fazem as bancadas evangélicas no Congresso, que existem para conseguir facilidades para sua denominação e sustentar impérios eclesiásticos”, diz ele.

O raciocínio antissectário se espalhou para a música. Nomes como Palavrantiga, Crombie, Tanlan, Eduardo Mano, Helvio Sodré e Lucas Souza se definem apenas como “música feita por cristãos”, não mais como “gospel”. Eles rompem os limites entre os mercados evangélico e pop. O antissectarismo torna os evangélicos mais sensíveis a ações sociais, das parcerias com ONGs até uma comunidade funcionando em plena Cracolândia, no centro de São Paulo. “No fundo, nossa proposta é a mesma dos reformadores”, diz o presbiteriano Ricardo Gouveia. “É perceber o cristianismo como algo feito para viver na vida cotidiana, no nosso trabalho, na nossa cidadania, no nosso comportamento ético, e não dentro das quatro paredes de um templo.”

A teologia chama de “cristocêntrico” o movimento empreendido por esses crentes que tentam tirar o cristianismo das mãos da estrutura da igreja – visão conhecida como “eclesiocêntrica” – e devolvê-lo para a imaterialidade das coisas do espírito. É uma versão brasileiramente mais modesta do que a Igreja Católica viveu nos tempos da Reforma Protestante. Desta vez, porém, dirigida para a própria igreja protestante. Depois de tantos desvios, vozes internas levantaram-se para propor uma nova forma de enxergar o mundo. E, como efeito, de ser enxergadas por ele. Nas palavras do pastor Kivitz: “Marx e Freud nos convenceram de que, se alguém tem fé, só pode ser um estúpido infantil que espera que um Papai do Céu possa lhe suprir as carências. Mas hoje gostaríamos de dizer que o cristianismo tem, sim, espaço para contribuir com a construção de uma alternativa para a civilização que está aí. Uma sociedade que todo mundo espera, não apenas aqueles que buscam uma experiência religiosa”.

A Deus seja toda a honra e toda a glória sempre.




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