1 de julho de 2016

Religião X Evangelho




A religião muda rotinas.
O Evangelho muda pessoas...
Na religião, a Verdade é uma ideologia.
No Evangelho, a Verdade é uma pessoa...
A religião se propõe a ocupar prédios.
O Evangelho se dispõe a ocupar mentes...
A religião propõe que você experimente o melhor desta terra.
O Evangelho propõe que você experimente o melhor de Deus...
A religião lhe propõe fazer o sinal da Cruz
O Evangelho lhe ensina a fazer da Cruz um sinal...
A religião visa multiplicar gente
O Evangelho visa multiplicar mentes
A religião molda as pessoas.
O Evangelho muda as pessoas...
A religião consegue transformar pessoas boas em más.
O Evangelho é capaz de transformar pessoas más em boas...
A religião idealiza
O Evangelho realiza...
A religião se ocupa em edificar impérios.
O Evangelho se compromete a edificar pessoas...
A religião anestesia o pensamento.
O Evangelho reconstrói a consciência...
A religião desafia você a ler as Escrituras.
O Evangelho instiga você a encarná-las...
Na religião, a confissão é uma liturgia do culto.
No Evangelho, a confissão é uma liturgia da vida...
Na Religião: “Sem dízimos, nada podeis fazer.
No Evangelho: "Sem Mim, nada podeis fazer"
Na religião, arrependimento é um pesar por aquilo que eu faço.
No Evangelho, é a geração da consciência sobre quem eu sou...
A religião põe a bíblia em suas mãos.
O Evangelho a põe em seu coração...
A religião propõe uma Reforma.
O Evangelho, uma nova forma...
Na religião há muitos culpados e muita culpa.
No Evangelho há muitos culpados e nenhuma culpa...
A religião raciocina com a categoria do "todos por Um".
O Evangelho, com a factualidade do "Um por todos"...
A religião considera sacrifícios que geram autojustiça
O Evangelho anuncia um único sacrifício que justifica a muitos.
A Religião muda à forma.
O Evangelho muda a fôrma...
Vem e segue-me, propõe o Evangelho.
Vem e senta-te, propõe a religião...
O Evangelho lhe desafia a seguir a Jesus.
A Religião lhe propõe seguir-se a si mesmo...
A religião nos leva a buscar coisas.
O Evangelho nos desafia a abraças causas...
A Religião mata para impor sua salvação,
O Evangelho anuncia a salvação por meio da morte daquele que veio salvar.
O Evangelho: "Negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me".
A Religião: "Negue a sua cruz, tome a si mesmo e siga"...

Por: Carlos Moreira

30 de junho de 2016

O pecado de se pretender justo


“Não sejas demasiadamente justo”
Eclesiastes 7.16

Ao que o Eclesiastes se refere? Quais os seus motivos para aconselhar assim? Ele contradiz o senso comum religioso e merece atenção. As conotações de um breve versículo são diversas.

Não se exceda em justiça. O inferno do legalista queima em fogo lento. De boca tesa, o santarrão caleja os nervos; vara anos sem rir. Ele apaga as luzes ao seu derredor para o mundo permanecer soturno. Para o piegas os critérios da lei serão inclementes na pele dos outros e passíveis de interpretação quando exigem que ele fure um olho ou ampute uma perna. Na Bíblia, o fariseu exibe sua demagogia numa esquina e o pecador, alvo da misericórdia é acolhido por Deus. Na história, Jean Valjean ilumina a vida e Javert morre no abismo devido à justiça implacável e inegociável que lhe mobilizou.

Não se pretenda perfeito. A casa do puro, caiada de branco, lembra os sepulcros – sem mancha no exterior e podre por dentro. Sem nunca suar, o perfeito se escandaliza com as inadequações alheias; sempre voluntarioso para erguer um cadafalso para quem tem qualquer defeito que lembre os seus, esquece que a misericórdia não chega aos que vivem impiedosamente. O argueiro no olho do outro o importuna mais que a trave no seu.

Não se veja irrepreensível. O caminho do imaculado se alonga em veredas de solidão. Encerrado em seu casticismo, o puro teme se contaminar com o próximo. Qualquer amizade o intimida. O saltimbanco que brinca à luz do dia, o tortura. O prazer o esmaga.  Qualquer desejo o empurra para a culpa.

Não se considere abnegado demais. A vida do altamente comedido o faz inodoro, insosso, incombustível. Revoltado com os que se arriscam, ele não tolera erros. Intransigente, apedreja os que tombam tentando. Onipotente quanto à sua moderação, menospreza o coxo que se supera, o vacilante que se expõe e o inseguro que ousa.

Não se arvore de ser correto.  O convívio com o lúcido, que se vê portador da verdade, é chato. Julgando-se guardião do absoluto, o correto se assume mensageiro exclusivo do divino e conquistador da ignorância universal. Ele vive convicto de ter o manejo do ruah (espírito) divino. Dogmático, projeta sombra sobre a beleza da poesia, já que as verdades devem ser organizadas como uma marcha militar.

Não se coloque como exato. O mundo do beato se alicerça na aparência. Ele precisa de máscara, fantasia, cera, qualquer coisa para encobrir concavidades na alma, agudezas no espírito e asperezas no coração. Agachado por detrás de conceitos decorados, prefere contraprovar um argumento a ter que encarar a subjetividade no seu interior.

Prefira ser humano, demasiadamente humano. Só os fortes se sabem frágeis e só os mansos, os que optam pela não-violência, herdarão o porvir. Os imperfeitos, não os probos santos, provam o doce mel da graça. Os defeituosos, vazios de se pretenderem divinos, serão elogiados por Deus. Só no desprezo ao poder se encontra a vida.

Ricardo Gondim